O novo livro do autor de O Caçador de Pipas


O romance Cidade do Sol, de Khaled Hosseini, é a versão feminina de seu livro O Caçador de Pipas. Ambos fazem sucesso com generosas doses de exotismo e drama


por Luís Antônio Giron


O traje islâmico típico do Afeganistão, que cobre a mulher da cabeça aos pés, converteu-se em fetiche no Ocidente e deu origem a um gênero literário, nascido com o século e a guerra contra o terror: o romance-de-burca. Essa modalidade de ficção é produzida por nove entre dez escritores de sucesso ocidentais ou ocidentalizados e é dirigida ao público ansioso por dar uma olhada no que há por trás da tela onde se ocultam as mulheres afegãs. É o orientalismo a serviço dos leitores voyeurs. O exemplar mais recente da moda se intitula A cidade do sol (Nova Fronteira, 368 páginas, tradução de Maria Helena Ruanet) e foi escrito por Khaled Hosseini, um médico de 42 anos nascido no Afeganistão e radicado nos Estados Unidos desde a adolescência.


Diga-se em defesa de Hosseini que ele jamais pensou em escrever profissionalmente. Mas, no início de 2003, sua mulher encontrou um manuscrito dele na garagem e, encantada pela história, incentivou-o a publicá-lo. Intitulava-se O Caçador de Pipas. O romance tornou-se um best-seller num esquema boca a boca. Demorou dois anos até figurar em primeiro lugar na lista do jornal The New York Times. O livro foi lançado no Brasil em setembro de 2005 e, de lá para cá, fascina os leitores locais e figura no alto das listas de mais vendidos.


O Caçador de Pipas seduz com uma história surpreendente, narrada com simplicidade. São dois irmãos (filhos, claro, de uma mulher de burca) separados na juventude. O móvel da trama é o remorso de um deles por ter se acovardado no instante em que pôde salvar a vida do outro. A Cidade do Sol não possui a mesma força, até porque, em quatro anos, a inovação se degenerou em clichê. A narrativa do novo livro se enquadra na linhagem do romance-de-burca: inclui locações exóticas, um déspota polígamo e mulheres dominadas, tudo sob o pano de fundo de guerra, destruição e excêntricos hábitos ancestrais. Conta a história de Mariam e Laila, duas mulheres do pérfido Rasheed, o sapateiro de Cabul. Rivais à primeira vista, elas se unem na resistência à opressão. Assim nasce uma grande amizade e o desafio de vencer os preconceitos em série: primeiro os do marido, depois os dos comunistas, dos talebans e, finalmente, das tropas da Otan. Nesse ínterim, o leitor pode espiar cenas da vida privada, com ciúme e sangue. Sim, os afegãos são, com alguns adereços a mais, gente como a gente.



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