Opinião publicada em sites de vendas de livros como Submarino

Tatiana Rodrigues da Silva (tatty_rodrigues@terra.com.br) de SAO PAULO, SP, 29/08/2007
Me decepcionei.

Li a resenha do livro e adorei, mas até agora não entendo como esse livro vendeu tantas cópias.. O livro não transmite emoção... As coisas acontecem de uma forma que não dá pra acompanhar... Terminei de lê-lo, pois pensei q em algum momento o livro ficaria bom, mas infelizmente isso não ocorreu.

Alexandre Rivaben Justino (rivaben@yahoo.com) de GARCA, SP, 21/08/2007
Na Natureza Nada Se Cria...
É sim um livro razoavelmente escrito e bem detalhado mas que deixa a desejar em relacao a profundidade psicologica dos personagens e suas nuances. De qq forma, é uma boa leitura, principalmente para que assistiu a ultima novela do Manoel Carlos, será mera coincidencia?

Cecília Figueiredo Rocco de SAO PAULO, SP, 09/08/2007
O Guardião de Memórias
Emocionante, verdadeiro, envolvente. Impossível esquêce-lo quando terminamos. Espelha a dificil caminhada em busca da segurança e da recuperação por atitudes tomadas por nós quando tentamos corrigir a vida que Deus nos determinou.

MARCOS de BELO HORIZONTE, MG, 02/08/2007
excelente
Achei este livro excelente, rico em detalhes e com um enredo que prende a atenção até o final. Gostei muito e recomendo a leitura.

Angelita Santos (angelita@cenariobrasil.com.br) de SAO PAULO, SP, 26/06/2007
very upset
Nossa... o livro é muito bem escrito, a história é cheia de detalhes, mas é muito triste. Apesar disso, a gente não consegue parar de ler. Angelita



A Menina que Roubava Livros


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, no original) é um romance juvenil do escritor australiano Markus Zusak, publicado em 2006. No Brasil, ele foi lançado em março de 2007 pela editora Intrínseca e foi traduzido por Vera Ribeiro.


Sinopse: Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a Morte três vezes. E, saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a Própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua história. História que, nas palavras dirigidas ao leitor pela ceifadora de almas no início de A menina que roubava livros, é uma dentre a pequena legião que carrego, cada qual uma tentativa - uma tentativa que é um salto gigantesco - de me provar que você e a sua existência humana valem a pena. Liesel Meminger é uma menina que tinha canelas de arame,braços de cabide e sorriso faminto,seu cabelo era um tipo bem próximo do louro alemão,mas seus olhos eram perigosos. Teve a perda de seu irmão logo quando seria entregue ao seus pais de criação.O irmão de Liesel se chamava Werner e teve uma morte ocorrida por um ataque de tosses enquanto sua mãe dormia em vagão de trem, essa foi a primeira vez que a morte teria visto a ladra de livros.Para Liesel isso teria sido um momento difícil:a útima vez que veria sua mãe e a despedida eterna de seu irmão. Hans e Rosa Hubermann são os pais de criação de Liesel,eles moravam em Molching, na rua Himmel.Sua casa parecia uma caixinha.


Alguns cômodos,uma cozinha e um banheiro dividido com os vizinhos.O telhado era plano e havia um porão baixo para guardar as coisas. Um de seus vizinhos eram os Stainer, deles Rudy seria um grande amigo e o namorado que Liesel não teve.Ao longo do tempo ela se convenceria que Rudy sempre fora o amor da sua vida,porém chegou tarde o bastante para telo encontrado vivo. Ao longo da hitória será provado que o grande problema era o desprezo de Hitler em relação aos judeus, pois esses mesmo causaria as mortes das pessoas de quem Liesel tanto gostava e o sumiço de seu novo amigo judeu. Não poderiamos deixar de falar da Mulher do prefeito de Munique.Uma senhora que vivia na área rica da cidade e foi a maior incentivadora a leitura de diversos livros de Liesel. A história se passa em um clima bélico e pesado e o final só pode ser descoberto se o leitor parar e escutar a história contada pela MORTE que faz sua última nota dizendo:"Os seres humanos me assombram".



O novo livro do autor de O Caçador de Pipas


O romance Cidade do Sol, de Khaled Hosseini, é a versão feminina de seu livro O Caçador de Pipas. Ambos fazem sucesso com generosas doses de exotismo e drama


por Luís Antônio Giron


O traje islâmico típico do Afeganistão, que cobre a mulher da cabeça aos pés, converteu-se em fetiche no Ocidente e deu origem a um gênero literário, nascido com o século e a guerra contra o terror: o romance-de-burca. Essa modalidade de ficção é produzida por nove entre dez escritores de sucesso ocidentais ou ocidentalizados e é dirigida ao público ansioso por dar uma olhada no que há por trás da tela onde se ocultam as mulheres afegãs. É o orientalismo a serviço dos leitores voyeurs. O exemplar mais recente da moda se intitula A cidade do sol (Nova Fronteira, 368 páginas, tradução de Maria Helena Ruanet) e foi escrito por Khaled Hosseini, um médico de 42 anos nascido no Afeganistão e radicado nos Estados Unidos desde a adolescência.


Diga-se em defesa de Hosseini que ele jamais pensou em escrever profissionalmente. Mas, no início de 2003, sua mulher encontrou um manuscrito dele na garagem e, encantada pela história, incentivou-o a publicá-lo. Intitulava-se O Caçador de Pipas. O romance tornou-se um best-seller num esquema boca a boca. Demorou dois anos até figurar em primeiro lugar na lista do jornal The New York Times. O livro foi lançado no Brasil em setembro de 2005 e, de lá para cá, fascina os leitores locais e figura no alto das listas de mais vendidos.


O Caçador de Pipas seduz com uma história surpreendente, narrada com simplicidade. São dois irmãos (filhos, claro, de uma mulher de burca) separados na juventude. O móvel da trama é o remorso de um deles por ter se acovardado no instante em que pôde salvar a vida do outro. A Cidade do Sol não possui a mesma força, até porque, em quatro anos, a inovação se degenerou em clichê. A narrativa do novo livro se enquadra na linhagem do romance-de-burca: inclui locações exóticas, um déspota polígamo e mulheres dominadas, tudo sob o pano de fundo de guerra, destruição e excêntricos hábitos ancestrais. Conta a história de Mariam e Laila, duas mulheres do pérfido Rasheed, o sapateiro de Cabul. Rivais à primeira vista, elas se unem na resistência à opressão. Assim nasce uma grande amizade e o desafio de vencer os preconceitos em série: primeiro os do marido, depois os dos comunistas, dos talebans e, finalmente, das tropas da Otan. Nesse ínterim, o leitor pode espiar cenas da vida privada, com ciúme e sangue. Sim, os afegãos são, com alguns adereços a mais, gente como a gente.




Resenha retirada do site Leia Livro


A sombra do vento, Carlos Ruiz Zafón
10/10/2006

Não é sem razão que "A sombra do vento" já teve três excelentes resenhas aqui no £eia £ivro, duas das quais geraram boletins radiofônicos [vale ver BUSCA: A sombra do vento]. Mesmo que esta minha resenha não acrescente nada em relação àquelas antes referidas, permito-me, aqui e agora, registrar meu entusiasmo por este livro. Ele é simplesmente empolgante. Usualmente se deixa o elogio ao livro resenhado para o fim, mas meu entusiasmo é tanto, que recomendo na abertura.


Carlos Ruiz Rafón, um catalão nascido em Barcelona em 1964 - morando em Los Angeles, mas colaborador dos jornais espanhóis La Vanguardia e El País -, tornou-se uma das maiores revelações literárias, sendo premiado na Espanha e traduzido em pelo menos nove idiomas. Em "A sombra do vento", Ruiz Rafón nos leva a passear por Barcelona, uma das cidades mais charmosas do mundo.


A trama é instigante. A cada momento temos surpresas; revelações nos surpreendem. As tessituras são construídas com poesia e mistério; dois ingredientes aparentemente imiscíveis, mas que terminam se dissolvendo um no outro a cada página. Poderia pinçar miríade de exemplos, mas trago apenas um excerto para mostrar o saboroso da escrita: "Naquele domingo, as nuvens fugiram do céu e as ruas descansavam imersas em uma lagoa de neblina ardente que fazia suar os termômetros das paredes".


É quase impossível fazer uma síntese de "A sombra do vento". Os bibliófilos têm nessa obra um hino ao livro. Por um capricho dos deuses que cuidam de nossas agendas, escrevo esta resenha emocionado assistindo pelo "Portal da ABL" a posse do bibliófilo José Mindlin, na Cadeira nº 29 da ABL. Ele começa pedindo desculpas por não trazer um texto escrito, pois está com problemas de visão, mas promete aos presentes o texto ao final. Também faz reverente homenagem à sua esposa Gita Mindlin, recém falecida. Não posso deixar de recordar, quando há um ano ele assistiu uma fala minha acerca de diários como forma de colecionismo e deixou um autógrafo no meu diário, na data de 31 de agosto de 2005. Vale agora receber a aula do consagrado bibliófilo.


Feito esse parêntese volto à resenha. Dois personagens importantes são livreiros e trama parte do presente que Daniel, no dia de seus 11 anos, recebe de seu pai: uma visita a um fantasmagórico cemitério de livros esquecidos. Ele pode escolher um livro e a sua seleção recai em A sombra do vento de Julio Carax. A partir de então vamos acompanhar Daniel por 10 anos na busca do autor do livro. Nos envolvemos no lúgubre e sangrento período da Revolução Espanhola, balizados por dois personagens que são antípodas: Fermin e Fumero, um anjo e um ogro. Eles interferem, cada a sua maneira nos amores e nos ódios. Mais... só lendo o livro ou acessando as outras duas resenhas já comentadas.


O livro já nos encanta pela atraente capa. A edição da Objetiva é caprichada, mesmo que contenha pequenas resvaladas na tradução (por exemplo, cimiento, na acepção que está no texto, é alicerce e não cimento) e algumas não coerências quando na citação de cidades para onde se evadem personagens. Mas nada chega comprometer a gostosura do texto.


Talvez valesse nos perguntar porque um de repente um livro se atravessa em nos leituras não saindo de nossa cabeça, volta às nossas mãos. Leio usualmente mais de um livro em paralelo. Há diferentes decisões para a opção por um e outro: a atratividade, o tamanho. Não me aprazem livros muito grossos em pelo menos duas situações: em período de muitos afazeres, que não possa me dedicar por um tempo mais extenso a leitura e para levar em viagem. Em suma, livro muito extenso é bom para as férias. Então a conclusão lógica: A sombra do vento é um livro muito bom, pois depois que comecei não o conseguia largar. Outra razão de optarmos por um determinado livro: Uma capa sedutora - no caso deste; uma resenha recomendatória; a indicação por outro leitor - aqui foi essa a situação.


Este me foi indicado por um querido primo, Milton Seligman. Demonstrou tanta fruição pelo livro que o acompanhava, quando nos encontramos há um mês, que no dia seguinte, o encomendei a meu livreiro. Sou muito grato ao Milton por me revelar esse livro. E é impressionante o quanto quem me indica um bom livro termina por me acompanhar na leitura. Parece que volta e meia estou palpitando com aquele ou aquela que me recomendou um bom livro. Durante a leitura deste livro voltei muito ao bucólico cemitério judaico de Santa Maria, onde estive num domingo, no ocaso do inverno com Milton na descoberta da matzeiva de seu pai, o meu tio Salomão. Era aquele um cenário apropriado para comentarmos sobre A sombra do vento e também lhe dizer como fora apreciada a sua indicação.


Já que me fiz intimista pela primeira vez aqui. Vou expandir mais minhas emoções: esta é a minha qüinquagésima resenha aqui no £eia £ivro. Acredito que seja motivo de celebrações. Assim celebro a 50ª resenha, sonhando com momentos em que talvez um dia festeje a 100ª ou a 250ª, talvez a 1000ª - dentro de nossa simpatia pelos números redondos. Parece que se gosta menos dos números primos. Quem festeja o 17, o 53 ou o 71? Permito-me como encerramento dizer o quanto me deleita o hobby de fazer resenhas aqui e me tem gratificado intelectualmente.


Essa comemoração à minha qüinquagésima resenha me entusiasmou. Em separado, na sessão 'você é o autor', apresentarei "Uma rapsódia para uma resenha jubilar".



Lançamentos


O Mulo
384 págs., R$ 35
de Darcy Ribeiro. Editora Leitura (r. Pedra Bonita, 870, CEP 30430-390, Belo Horizonte, MG, tel. 0/xx/31/ 3379-0620).
De um dos principais antropólogos brasileiros, o romance dá voz ao capitão Philogônio Castro Maya, conhecido como Mulo, que faz um balanço de sua vida em uma confissão-testamento.


O Paradoxo de Rousseau
168 págs., R$ 25
de Wanderley Guilherme dos Santos. Rocco (av. Presidente Wilson, 231, 8º andar, CEP 20030-021, RJ, tel. 0/xx/21/ 3525-2000).
O professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro reflete sobre a obra de Rousseau, faz um exame da democracia brasileira e aborda temas como participação política.


Felicidade
96 págs., R$ 17
de Franklin Leopoldo e Silva. Editora Claridade (av. Dom Pedro 1º, 840, CEP 01552-000, SP, tel. 0/xx/11/ 6168-9961).
O professor de história da filosofia contemporânea na USP expõe as diferentes abordagens para a felicidade desde os pré-socráticos até os filósofos contemporâneos. Edição de bolso.


Entre Campos: Nações, Culturas e o Fascínio da Raça
416 págs., R$ 55
de Paul Gilroy. Coordenação de tradução de Celia Maria Marinho de Azevedo. Annablume (r. Padre Carvalho, 275, CEP 05427-100, SP, tel. 0/xx/11/ 3812-6764).
O professor da London School of Economics analisa políticas raciais, discorre sobre a cultura do consumo, sobre o impacto da biotecnologia e sobre a desigualdade entre países.


A Evolução das Coisas Úteis
308 págs., R$ 59
de Henry Petroski. Tradução de Carlos Irineu W. da Costa. Zahar (r. México, 31, sobreloja, CEP 20031-144, RJ, tel. 0/xx/21/ 2108-0808).
O professor de engenharia civil na Duke University (EUA) apresenta a evolução de instrumentos, ferramentas, artefatos e objetos cotidianos como clipes, alfinetes, garfos, latas e zíperes.


O Brasil Pode Ser um País de Leitores?
224 págs., R$ 29,90
de Felipe Lindoso. Summus Editorial (r. Itapicuru, 613, 7º andar, CEP 05006-000, SP, tel. 0/xx/11/ 3872-3322).
A política cultural brasileira para o livro é o tema do jornalista e editor amazonense, que apresenta o histórico da indústria editorial e avança sobre problemas de produção, distribuição e acesso às obras.


Escritos
284 págs., R$ 18
Revista da Casa de Rui Barbosa (r. São Clemente, 134, RJ, tel. 0/xx/21/ 3289-4646).
A revista traz dez artigos que tratam da relação entre historiografia e memória e abordam as obras de Manuel Bandeira e de Drummond, entre outros assuntos, por nomes como Hans Ulrich Gumbrecht.


Nietzsche Comediante
90 págs., R$ 28
de Rosana Suarez. 7Letras (r. Jardim Botânico, 600/307, CEP 22461-000, RJ, tel. 0/xx/21/ 2540-0076).
A professora no departamento de filosofia e de comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro utiliza Molière para expor sob a ótica cômica a crítica nietzschiana à filosofia.


A Revolução Francesa Explicada à Minha Neta
102 págs., R$ 22
de Michel Vovelle. Tradução de Fernando Santos. Ed. Unesp (praça da Sé, 108, CEP 01001-900, SP, tel. 0/xx/11/ 3242-7171).
O historiador francês, professor emérito da Universidade de Paris 1, apresenta de forma simplificada e didática os acontecimentos que marcaram os dez anos cruciais da Revolução Francesa.




Livros
Fervor de São Paulo e Buenos Aires

Fotografias de B.J. Duarte e Horacio Coppola, reunidas em livros, lançam olhar nostálgico a metrópoles latino-americanas

CRISTIANO MASCARO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A fotografia e as cidades têm um caso bem antigo de atração à primeira vista. De fato, em 1827, quando Joseph Nicéphore Nièpce julgou-se apto a se imortalizar como um grande inventor, não pensou duas vezes: munido de uma pesada câmera, caminhou até a janela de sua casa em Chalon-sur-Saône e, pronto! Sapecou a primeira fotografia da história mirando, justamente, os edifícios que dali podia avistar.
Deste instante decisivo (na verdade a tomada da fotografia durou 8 horas, mas essa é outra história) em diante, as cidades nunca deixaram de ser protagonistas assíduas da produção fotográfica. Tanto é que, por volta de 1930, dois diligentes fotógrafos, Benedito Junqueira Duarte (1910-1995) e Horacio Coppola (1906) dedicaram-se a registrar, quase simultaneamente e com os mesmos propósitos, São Paulo e Buenos Aires respectivamente. E o resultado de seus trabalhos nos chega agora às mãos da mesma forma, quase simultaneamente, pelas edições de "B.J. Duarte -Caçador de Imagens" (Cosac Naify) e de "Horacio Coppola -Visões de Buenos Aires" (Instituto Moreira Salles).
"B.J. Duarte - Caçador de Imagens" possui um mérito indiscutível: revela, causando enorme espanto, uma São Paulo que não existe mais. A enorme diferença entre as paisagens da cidade fotografada há 70 anos e aquelas que podemos observar nos dias de hoje provocou enorme comoção nas almas da Paulicéia, hoje, evidentemente, muito mais desvairada. Haja vista a recente repercussão na imprensa provocada pela revelação destas fotografias realizadas, a partir de 1935, por Benedito Junqueira Duarte ao ser encarregado por Mário de Andrade, então Secretário da Cultura, de registrar as realizações do governo.
No entanto, se formos observar essas imagens do ponto de vista puramente da criação fotográfica, não devemos nos iludir. Tal repercussão é produto da pura nostalgia de tempos que não voltam mais. Repetindo: não há dúvidas de que B.J. Duarte foi dotado de "um forte senso de documentação histórica", como frisa Rubens Fernandes em seu texto, o que, no entanto, não basta para que possa ser reconhecido como um fotógrafo inspirado.
Apesar de ter se dedicado à documentação da cidade em um período crucial de grandes transformações, B.J. Duarte raramente produziu imagens surpreendentes. Em sua maioria, são registros burocráticos e ufanistas de jovens estudando ou praticando exercícios físicos em parques infantis. Ou são "fotos oficiais", preocupadas só em registrar as realizações do governo ao qual servia sem se esforçar para revelar, através de uma visão pessoal e crítica, a cidade que via se agigantar.
As últimas páginas do livro, reservadas aos retratos, que são poucos, infelizmente, revelam, aí sim, um retratista sensível ao voltar seu olhar para diversas personalidades da época. Somos surpreendidos por um descontraído Cassiano Ricardo, de pijama e gravata ao lado de sua arara de estimação, pela figura elegante de Monteiro Lobato com suas indefectíveis sobrancelhas em uma bela composição que nos lembra a foto do ateliê de Mondrian realizada por André Kertèsz e pela, talvez, imagem mais conhecida de B.J.
Duarte, o retrato, na verdade uma bela máscara expressionista, de Mário de Andrade. Aí estão, sem dúvida e nostalgia à parte, as melhores páginas deste livro.
"Horacio Coppola: Visões de Buenos Aires" nos surpreende a partir da fotografia que ilustra sua capa. Vultos misteriosos, sombras de pessoas e toldos esvoaçantes desenham sobre uma calçada a racionalidade geométrica das cidades que, sobreposta ao emaranhado das existências humanas, tanto intrigava Italo Calvino.
E Coppola continua a nos encantar livro adentro com uma sucessão de páginas vibrantes que nos revelam, nas palavras de Jorge Schwartz, que assina o texto de abertura, a influência de que "o breve período da passagem pela Bauhaus, [...], deve ter confirmado essa atração pela linearidade e pela síntese despojada e geométrica que caracterizaria a sensibilidade de toda uma geração, a chamada Nova Visão". Nota-se também uma proximidade com o trabalho de Albert Renger-Patzsch fotógrafo alemão que, a partir de 1928, rebelou-se contra os trabalhos temáticos tão em voga em sua época para dedicar-se à representação dos valores estéticos e pictóricos dos objetos do cotidiano.
Igualmente, o onipresente André Kertèzs, desbravador pioneiro da vida nas calçadas, não era um desconhecido do fotógrafo argentino. Munido dessas referências, que não o impediram de possuir personalidade própria, Horacio Coppola bateu pernas. Esquadrinhou Buenos Aires de cima a baixo, de dia e de noite, explorando as mais diversas possibilidades e situações da vida e da paisagem da cidade. Suas imagens atingem um alvo preciso, situado muito além das aparências e distante do simples e frio registro técnico que, infelizmente, já bastaria para alguns.
As fotografias de Horacio Coppola, um original fotógrafo andarilho, hoje com a idade de 101 anos, nos revelam a vibração, os espantos de um dobrar de esquina e, ainda, o fervor de Buenos Aires: "As ruas de Buenos Aires já são minhas entranhas..." como escreveu Jorge Luis Borges ("Fervor de Buenos Aires", 1923).
Na comparação inevitável entre B.J. Duarte e Horacio Coppola, não podemos deixar de reconhecer que, desta vez, perdemos para los hermanos.

CRISTIANO MASCARO é fotógrafo, autor de "São Paulo" (Senac).


B.J. DUARTE - CAÇADOR DE IMAGENS
Textos: Rubens Fernandes Junior, Paulo Valadares e Michael Robert Alves de Lima
Editora: Cosac Naify (tel. 0/xx/11/ 3218-1444)
Quanto: R$ 42 (208 págs.)


HORACIO COPPOLA - VISÕES DE BUENOS AIRES
Autor: Horacio Coppola
Editora: IMS (tel. 0/xx/11/ 3371-4455)
Quanto: R$ 40 (116 págs.)




Livros

A era da reavaliação

Saem edições de Ruy Fausto, com uma reavaliação da esquerda, e do italiano Luciano Canfora, com crítica à democracia

FÁBIO WANDERLEY REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A leitura conjunta de "A Esquerda Difícil" e do livro de Luciano Canfora não favorece o primeiro. A aproximação é natural: aparecem ao mesmo tempo e trata-se, em ambos os casos, de trabalhos marcados por um ânimo crítico. Os textos reunidos no volume de Ruy Fausto redundam no ajuste de contas algo azedo de um homem de esquerda, que continua a perceber-se como tal, com os heróis e vilões e os temas e desvios de um marxismo já gasto.
O diálogo se trava principalmente com os comunistas de princípios do século 20, além de Marx e Engels, e não há lugar no livro nem sequer para um nome da importância do de [Jürgen] Habermas, que dirá para os esforços recentes de autores norte-americanos e europeus ligados ao chamado "marxismo analítico" ou ao reexame do "socialismo de mercado". Por sua vez, a crítica de Canfora à democracia é com certeza atraente, embora desalentadora, para quem quer que pretenda inspirar-se numa tradição de esquerda.
Isso não impede que, substantivamente, Ruy Fausto tenha ampla razão no que nos trata de dizer, nem que haja muito a aproveitar dos registros factuais e das minúcias da reavaliação intelectual e política da experiência comunista e social-democrata do século passado. Destaco alguns aspectos: a afirmação inequívoca do valor da democracia em suas dimensões civil e política e o empenho em atribuir a responsabilidade por seu comprometimento no "socialismo real" não só a Stálin ou Lênin, mas à apologia da violência nas próprias idéias originais de Marx e Engels; a reiteração dos perigos relativos ao componente autocrático dos movimentos de massas, ilustrados de modo exemplar pelos eventos de 1968, não obstante a inspiração libertária; e a valorização da social-democracia de estilo escandinavo como combinação da democracia política com a capacidade de controlar o poder dos capitalistas e produzir sociedades igualitárias -embora o autor não chegue a enfrentar com clareza a questão de até que ponto a preservação do mercado (com suas relações conceituais complicadas com o capitalismo como tal), ao permitir a autonomia dos agentes na crucial esfera econômica, seria condição decisiva, ao lado do elemento de convergência trazido pelo poder estatal, para o que permite festejar a social-democracia.
Já a crítica de Canfora mobiliza recursos intelectuais mais diversificados e é certamente também de maior alcance. Sua motivação imediata é a patente convivência atual da retórica democrática e da participação eleitoral universal com o fato de que as decisões realmente importantes se concentram nas mãos dos economicamente privilegiados (ou, cada vez mais, diretamente nas grandes corporações ou nos organismos técnicos do poder financeiro).
Na óptica geral do autor, a atuação da Corte Suprema dos EUA na eleição de 2000, por exemplo, não foi mais que um golpe de Estado. Ocorre, porém, que (não obstante o "interessante e inédito" acesso popular à classe política européia, com os partidos políticos "de classe", no século e meio que termina com o fim da União Soviética), o caráter de "regime misto" aristotélico "com supremacia oligárquica" marca toda a história da democracia, de Atenas ao "consenso" obtido na... "democracia sovietista".
A oligarquia é fatal, como sustentava Gaetano Mosca (1858-1941), e, contra o sonho dos reformadores e revolucionários, a revolução na verdade é impossível: a mudança é molecular e invisível.
E no pós-União Soviética temos possivelmente um novo Congresso de Viena, uma "nova e armadíssima Restauração", de duração indefinida.
Não é de todo clara a razão da nota final, ao cabo, otimista: a "impureza" da história uniria "a reta e o círculo numa espiral jamais tautológica".

FÁBIO WANDERLEY REIS, cientista político, é professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais.

A ESQUERDA DIFÍCIL
Autor: Ruy Fausto
Editora: Perspectiva (tel. 0/xx/11/ 3885-8388)
Quanto: R$ 55 (272 págs.)

CRÍTICA DA RETÓRICA DEMOCRÁTICA
Autor: Luciano Canfora
Tradução: Valéria Silva
Editora: Estação Liberdade (tel. 0/xx/ 11/ 3661-2881)
Quanto: R$ 27 (120 págs.) +


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